segunda-feira, 28 de junho de 2010

A Solitária Morte de José

in Retalhos de Uma Memória Perdida   por Daniel Pereira

"Polémico. Comunista. Era isto o que diriam dele se a esses perguntassem. Se perguntassem a outros, diriam que era um grande escritor. Outros ainda sobre a sua escrita, diriam que era um mau escritor, demasiado confuso, sem respeito pela gramática.
Nada disso importava. Era um homem, e com a idade que tinha, já tinha percebido que nada do que os outros diziam importava. Importava o que ele pensava e os que o amavam e aconselhavam. A vida era, apesar de longa, curta demais para se perder o tempo tentando agradar aos outros. Como diziam, não se podia agradar a gregos e troianos, e por isso não valia a pena ralar com as suas fúteis disputas.
Estava um belo dia. Solarengo, o mar ao longe avistava-se suave, a curva do horizonte, que outrora prometera mundo sem fim a quem se atrevesse a tentar alcança-la, revelava agora pacificamente barquinhos suaves que alegremente a acompanhavam. O verão rapidamente chegaria, já se sentia a sua áurea. Tinha ido dar o seu passeio, e agora sozinho, sentava-se a relaxar na sua espreguiçadeira de baixo da sombra da sua oliveira. Oliveira que ele mesmo plantara anos atrás. Olhando para a sua copa pensou em como o tempo passava.
Sentado na espreguiçadeira e olhando também a copa da oliveira, estava o anjo da morte, também ele pensando em como o tempo passava. Talvez a noção dos dois sobre a passagem do tempo fosse diferente, aliás, não o poderia deixar de ser. José pensava em poucos anos, em quando plantara a oliveira. O anjo, esse não pensava em anos, pensava em muito mais tempo. Pensava no tempo em que também ele se passeara por entre os homens, plantando.
Baixou a cabeça, pegou no seu copo de água e bebeu um pouco. Olhou uma última vez para o seu mar, mar que os seus em tempo idos tinham conquistado contra ventos e marés, contra monstros e abismos, contra o próprio tempo. Sorriu e fechou os olhos. Suspirou. E nada.
O anjo da morte olhou uma última vez para José e levantou-se para partir.
A cadeira chiou.
Quem está ai. Perguntou José, e abrindo os olhos, rodou a cabeça. Fixou o seu olhar naquela figura à sua frente. Quem é você. Como entrou. Perguntou José.
Tu consegues ver-me. Chorou, o anjo da morte chorou."

Boas Férias e até po ano pessoal! Passem no meu blog (mais acima como link) e conheçam o resto da história. Inté....

Avé Baco!!!

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